
A Fiocruz promoveu, entre 15 e 18 de julho, no auditório da Fiocruz Ceará, o 5º Seminário de Saúde, Ambiente e Sustentabilidade – Fiocruz Frente à Crise Ecológica e Climática. O evento reuniu pesquisadores, representantes do governo e dos movimentos sociais. Ao longo de quatro dias, foram promovidos painéis, debates e rodas de conversa que consolidaram os principais desafios e propostas para a atuação da Fundação diante da emergência climática, com foco na agenda institucional, na atuação territorial e no fortalecimento do SUS.
Entre as propostas do seminário estão a criação de plataformas de tecnologia em saúde e ambiente, ações afirmativas para promover a diversidade na pesquisa, fortalecimento da escuta nos territórios, inclusão de saberes tradicionais e justiça climática na educação.
A plenária final apresentou os resultados das seis rodas de conversa: Pesquisa; Educação, Territórios e Crise Climática; Inovação; Gestão e Planejamento Estratégico; Comunicação e Divulgação Científica; e Saúde Global. As discussões abordaram lacunas como a dificuldade de articulação com os territórios, racismo ambiental, ausência de conteúdos curriculares interseccionais, barreiras institucionais à inovação e à gestão sustentável, a necessidade de comunicação mais acessível e conectada com os territórios, entre outras. Entre as propostas advindas das rodas destacam-se a criação de plataformas de tecnologia em saúde e ambiente, ações afirmativas para promover a diversidade na pesquisa, fortalecimento da escuta nos territórios, inclusão de saberes tradicionais e justiça climática na educação, reestruturação institucional para fomentar inovação em rede; e articulação nacional e internacional para fortalecer respostas integradas às crises globais.
O presidente da Fiocruz, Mario Moreira, reafirmou o compromisso da instituição com a agenda de saúde e ambiente: “A Fiocruz já tem um norteador político construído durante muitas décadas. Temos a crença de que não se pode construir política pública sem escutar ou interagir com as populações”, afirmou.
“É um momento histórico no sentido de ser um marco da instituição, apresentar, ouvir e alinhar processos de como podemos trabalhar de uma forma interconectada e territorializada. O que pode nos fortalecer são as nossas diferenças, é por isso que estamos aqui”, comentou a vice-presidente adjunta de Ambiente, Atenção e Promoção da Saúde da Fiocruz, Patrícia Canto Ribeiro.
A vice-diretora de Ensino do Icict, Renata Gracie, ressaltou as interações entre os pesquisadores, os gestores, a academia e a sociedade civil, por conta do seminário: "Está ocorrendo um esforço de comunicação, que pode contribuir para melhorar as políticas públicas, sobretudo com o momento atual de mudanças climáticas".
Rodas de conversa
A primeira apresentação foi da roda de conversa Pesquisa. Entre os desafios e lacunas citados pelo grupo estão a inclusão de diversidades, as demandas da pesquisa que precisam partir do território, os tempos de pesquisa que não são suficientes para desenvolver um relacionamento com os territórios, a agenda do saneamento que precisa ser mais ampla na Fiocruz, além de questões orçamentárias e de investimento. Sobre as propostas, o grupo sugeriu ações afirmativas para promover diversidades, pensar em pesquisas com intervenções visando soluções locais, necessidade de uma plataforma de tecnologia de saúde e ambiente, racismo ambiental como eixo da política de emergência climática, fórum de escuta nos territórios e ampliação da atuação da Fiocruz no debate das políticas públicas, tendo a interseccionalidade como eixo central do debate.
A segunda roda de conversa, sobre Educação, Territórios e Crise Climática, frisou algumas lacunas importantes, como a academia não estar preparada para a integração com os territórios e 'maretórios' e para o reconhecimento da complexidade dos mesmos; o racismo estrutural e suas expressões no racismo institucional e ambiental; ausência na inserção de conteúdos curriculares que tratem da relação saúde, ambiente, trabalho, desenvolvimento e o despreparo dos docentes com estes conteúdos; a necessidade de reconhecer os direitos da natureza; e o modelo de educação de base eurocêntrica e pouca inclusão de autores contra-hegemônicos e decoloniais nos editais de seleção. O grupo concluiu dizendo que é necessário 'reencantar' o mundo com educação territorial justa e crítica, transformar territórios e 'maretórios' com justiça climática, e fortalecer o SUS com diversidade, equidade e participação social.
A terceira roda de conversa, com o tema Inovação, apontou que este momento de transformação intensifica as crises que vivemos e exige adaptação rápida e que a Fiocruz tem capilaridade e precisa estar conectada com as inovações que surgem nesse contexto. Na análise da roda, para fazer inovação, é preciso reestruturar a cultura institucional, ampliar a capacidade de trabalho em rede, garantir a conexão de inovação e movimentos sociais, políticas públicas, pesquisa, território, produção e assistência, criar um ambiente favorável à inovação e intensificar a relação do território e conhecimento tradicional, considerando a complexidade dos territórios e estimulando os processos de inovação, envolvendo sociedade e academia locais.
A quarta roda de conversa, Gestão e Planejamento Estratégico, citou a gestão para transformação, orientação estratégica para um modelo de gestão saudável e territorializada, diálogo e escuta para superar desigualdades e iniquidades em saúde, além de construir e monitorar indicadores de sustentabilidade. Entre alguns desafios citados, estão as amarras burocráticas, a fragmentação institucional e a capilaridade territorial limitada. Como ofertas, a construção de políticas públicas para povos e comunidades tradicionais, os cursos e formações, e o catálogo saúde na mesa - alimentação para eventos, foram citados.
Comunicação e Divulgação Científica foi a quinta roda de conversa a ser apresentada e os focos foram comunicação com diálogo; combate à desinformação; comunicação com enraizamento territorial; formação para comunicação e divulgação científica em saúde, ambiente e sustentabilidade; fomentar estudos de avaliação crítica da ciência, estimular estratégias alternativas de comunicação, como a facilitação gráfica; letramento racial; e explorar diferentes técnicas para comunicar com públicos diversos, entre outros pontos.
A sexta e última roda de conversa, Saúde Global, destacou que é preciso atuar em rede (institucionais e com movimentos sociais, regionais, intersetoriais, internacionais e países da tríplice fronteira), formar mais grupos multidisciplinares para atuar de forma homogênea e redes regionais de enfrentamento de problemas complexos, frisando a importância de dar uma devolutiva aos territórios e entregar o que eles precisam. O grupo também pontuou que o custo de prevenir os danos é menor que o de responder; é preciso extrapolar a experiência biomédica para experiências territorializadas.
Painéis
Durante os outros dias de seminário, também aconteceram os painéis 'Os Movimentos Sociais e a Agenda de Saúde e Ambiente da Fiocruz', que propiciou a escuta aos movimentos sociais e identificou os principais problemas vivenciados nos territórios e discutiu os desafios a serem superados, reconhecendo as contribuições dos movimentos para enriquecer a agenda de saúde e ambiente da Fundação; e 'Saúde, Ambiente e Sustentabilidade: Perspectivas para a Fiocruz', com foco na agenda institucional de saúde, ambiente e sustentabilidade. A Fiocruz assumiu o compromisso de realizar um evento o mais sustentável possível. Para isso, foi implementado o reaproveitamento dos resíduos orgânicos por meio da compostagem e dos inorgânicos com a reciclagem. Como resultado, no total dos quatro dias de evento, foram 21,10kg de resíduos recicláveis e 183,10kg de resíduos compostáveis.
Carta
A partir do V Seminário de Saúde, Ambiente e Sustentabilidade da Fiocruz, foi divulgada uma carta sobre as consequências do projeto de lei que flexibiliza o licenciamento ambiental. Confira aqui.
Dossiê Abrasco
Também ocorreu o lançamento do Dossiê Danos dos Agrotóxicos na Saúde Reprodutiva - Conhecer e Agir em Defesa da Vida, disponível no site da Abrasco, apresentado por Guilherme Franco Netto, coordenador de Saúde e Ambiente. O seminário fez uma homenagem à dirigente do setor Saúde do MST do Mato Grosso do Sul, Maria Ferreira, também conhecida como Maria da Saúde, que faleceu durante o evento. Como reconhecimento ao seu legado, o 5º Seminário de Saúde, Ambiente e Sustentabilidade também recebeu o nome de “Seminário Maria Ferreira”.
Acesse o canal da Fiocruz no YouTube para assistir aos dois primeiros dias do seminário na íntegra.
Dia 15 de julho
Dia 16 de julho