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Fórum Oswaldo Cruz inicia debate sobre a nova agenda da pesquisa

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Elisandra Galvão (VPPCB/Fiocruz), Isabela Schincariol. Isabelle Resende (Vpeic/Fiocruz) e informações da Ascom Icict
Publicado em - Atualizado em
Mesa de abertura do Fórum Oswaldo Cruz

A primeira atividade do Fórum Oswaldo Cruz, em celebração aos 125 da Fiocruz, aconteceu na manhã de terça-feira (5/8). O evento marca o início de um movimento coletivo voltado à pesquisa e se propõe a ser um espaço de diálogo e construção participativa para trabalhadores e estudantes das 16 unidades e quatro escritórios da Fundação, distribuídos em 10 estados brasileiros e no Distrito Federal.

Na abertura, ganharam destaque o chamado à defesa da democracia, à promoção da pluralidade e da diversidade, e à valorização da solidariedade na formulação de uma agenda científica. Também foram enfatizados o enfrentamento das desigualdades regionais, as demandas dos estudantes e o reconhecimento das contribuições de todos os trabalhadores — inclusive os que atuam em funções de apoio — como condição essencial para garantir que todas as vozes sejam ouvidas na definição dos rumos da pesquisa na instituição. A proposta está alinhada ao objetivo central do Fórum: construir, de forma colaborativa, um Plano de Desenvolvimento da Pesquisa para a Fiocruz.

A preparação do Fórum — organizado pela Vice-Presidência de Pesquisa e Coleções Biológicas (VPPCB), em parceria com a Vice-Presidência de Educação, Informação e Comunicação (Vpeic), o Centro de Estudos Estratégicos Antonio Ivo de Carvalho (CEE/Fiocruz) e a Fiocruz Brasília — mobilizou diferentes áreas da Fundação. Nas semanas que antecederam o encontro, foram realizadas duas reuniões da Câmara Técnica de Pesquisa da Fiocruz, com a presença de representantes das áreas de pesquisa da instituição. Também houve articulações entre as instâncias organizadoras e encontros com a Coordenação de Comunicação Social (CCS) e a Coordenação de Vigilância em Saúde e Laboratórios de Referência.

Para a vice-diretora de Pesquisa do Icict, Renata Gracie, o Fórum é uma iniciativa relevante e estratégica, com o potencial de contribuir significativamente para mapeamento das diversas pesquisas e expertises existentes na instituição, além de fortalecer a articulação em rede, as parcerias e atividades de cooperação baseadas em evidências. "Ao sistematizar e tornar mais visíveis essas capacidades, em uma integração entre ensino, pesquisa e inovação em saúde, o Fórum tem o potencial de contribuir para aprimoramento do desempenho e para ampliação da democracia no acesso ao Sistema Único de Saúde (SUS).

Nova agenda científica e de trabalho

"São muitos brasis dentro do Brasil e muitas Fiocruz dentro da própria Fiocruz", disse o presidente da Comissão Nacional de População e Desenvolvimento da Secretaria-Geral da Presidência da República (CNPD), Richarlls Martins da Silva — que é egresso da Fundação —, lembrando que a defesa e a marca da democracia vão além de um padrão civilizatório, sendo um exercício das possibilidades de construção de qualquer estratégia institucional que defenda a pluralidade, a liberdade de pensamento, a promoção da igualdade racial e de gênero, a diversidade e a solidariedade. Ele apresentou pontos fundamentais de reflexão que, em sua opinião, devem guiar a construção dessa nova agenda de pesquisa e mostrou-se esperançoso com a possibilidade do Fórum potencializar as inúmeras vozes institucionais, apresentando-se, de fato, como uma construção democrática. "Eu adoraria que, ao longo desse processo, nossos auxiliares de serviços gerais, seguranças e outros, para além de nós, doutores e doutoras, também pudessem dizer o que pensam sobre um plano de desenvolvimento de ciência, tecnologia e pesquisa na nossa instituição". Para ele, também é fundamental para a agenda cientifica incluir e investir nas regiões Norte e Nordeste.

Seguindo as apresentações, a representante da Associação de Pós-Graduandos da Fiocruz (APG), Fernanda Campelo Nogueira Ramos, destacou que é uma pós-graduanda mãe e fala por um coletivo. Coletivo tal que, segundo ela, deseja e precisa estar envolvido nesse debate sobre o futuro da pesquisa científica da Fiocruz, pois "os pós-graduandos não apenas aqui se formam, mas especialmente porque formam esta casa com suas produções intelectuais, inquietações e força de trabalho". Colocando a APG à disposição para contribuir nesse processo, Fernanda apontou que o Fórum é um convite à escuta ativa, um lugar para repensar as políticas de ciência e tecnologia a partir de perspectivas mais inclusivas e interseccionais. "Hoje, projetamos a pesquisa da Fiocruz para o futuro. Portanto, que o futuro da pesquisa da Fundação seja também o futuro das mulheres cientistas, das pessoas negras e indígenas na ciência, da população LGBTQIAPN+, das mães pesquisadoras, dos territórios periféricos, das comunidades tradicionais e todos os outros que compõem esta nação".

Ao apresentar o sindicato dos trabalhadores da Fiocruz, o presidente da Asfoc-SN, Paulo Garrido, defendeu que o reconhecimento da Fundação como instituição estratégica de Estado depende do fortalecimento do plano de carreiras, da valorização dos trabalhadores e trabalhadoras, da melhoria das condições de trabalho e da promoção da capacitação contínua. Também destacou a importância da luta contra o racismo, o capacitismo e a LGBTfobia no ambiente institucional. “Este fórum nasce em um momento crucial. A ciência precisa caminhar com a saúde e o desenvolvimento industrial para garantir soberania nacional, justiça social e a construção de um novo projeto de desenvolvimento para o país. Estamos prontos para contribuir com essa construção”, assegurou.

Conexões para o futuro da ciência

Disputas geopolíticas, de território, desigualdades sociais, problemas relacionados ao clima e assimetrias regionais são grandes questões contemporâneas que estão postas e precisam ser enfrentadas de maneira transversal. A vice-presidente de Educação, Informação e Comunicação (Vpeic), Marly Cruz, com entusiasmo, apontou que o Fórum está sendo construído com esse espírito, pensando as conexões para o futuro da ciência num processo participativo e colaborativo que busca debater essas questões tão caras e cruciais para o mundo. A ideia, de acordo com ela, é que a Fiocruz seja mais propositiva enquanto instituição estratégica de Estado. "Em uma data tão significativa, anunciamos esse projeto participativo, colaborativo e inclusivo, que lança mão de uma estratégia de integração interna e também de adesão e envolvimento de diferentes segmentos, organizações e o controle social, tendo o diálogo coletivo como base para a construção do plano de desenvolvimento da pesquisa da Fiocruz".

“Estamos resgatando uma proposta histórica, iniciada há mais de uma década, e agora a colocamos em prática com o olhar voltado para os próximos 125 anos da instituição. É uma tarefa que carrego com emoção e responsabilidade”, afirmou Alda Maria da Cruz, vice-presidente da VPPCB. Durante sua fala, Alda registrou reconhecimento aos trabalhos e trajetórias de Maria do Carmo Leal, professora e pesquisadora da Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca, e de Nísia Trindade Lima — primeira mulher a presidir a Fiocruz e a assumir o Ministério da Saúde —, ambas presentes no Fórum. “Nísia é um orgulho para todas nós”, declarou. Ela também ressaltou o legado da Fiocruz na produção científica e reforçou a importância de retomar e aperfeiçoar iniciativas anteriores para projetar o futuro da pesquisa institucional. “A mesa de abertura representa a diversidade esperada para o Plano Nacional de Pesquisa da Fiocruz”, concluiu.

A vice-presidente de Pesquisa e Coleções Biológicas da Fiocruz, Alda Maria da Cruz, e a vice-presidente de Educação, Informação e Comunicação da Fundação, Marly Cruz, estiveram presentes no evento (foto: Peter Ilicciev)

O presidente da Fiocruz, Mario Moreira, observou que o Fórum representa um processo coletivo e democrático de construção do plano de pesquisa, envolvendo dimensões políticas, estratégicas e operacionais. “Este é o espaço para refletirmos sobre qual ciência está sendo feita, com quem e para quem”, frisou. Para ele, mais do que uma etapa de planejamento, o Fórum é um movimento democrático e estratégico. A sua expectativa é que seja um caminho de construção conjunta, com reflexões críticas sobre o futuro da pesquisa na Fiocruz, considerando os desafios sanitários, a transição demográfica, as mudanças climáticas e a desigualdade no Brasil. Ao relembrar a luta pela democracia, Mario reforçou o papel da instituição no enfrentamento das desigualdades no acesso à saúde, à ciência e à tecnologia.

Desafios da ciência e da Fiocruz

Na palestra principal, intitulada Desafios da ciência no mundo contemporâneo: o papel da pesquisa na Fiocruz, Manuel Heitor, ex-ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior de Portugal e professor do Instituto Superior Técnico, de Lisboa, discutiu as transformações recentes, com ênfase no novo contexto geopolítico marcado pelo protagonismo científico e tecnológico da China e pelas reconfigurações em curso na Europa. Esses movimentos, para ele, têm impactos diretos e indiretos sobre instituições como a Fiocruz.

Manuel Heitor, ex-ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior de Portugal e professor do Instituto Superior Técnico, de Lisboa (foto: Peter Ilicciev)

A pergunta que norteou sua exposição foi: quais as condições para promover o conhecimento e a ciência como fatores críticos para a competitividade e para enfrentar os desafios sociais emergentes globalmente no crescente “complexo de incerteza” que se observa internacionalmente? A partir dela, Manuel analisou um conjunto de desafios interconectados, como as mudanças climáticas, as guerras, as transformações demográficas, o aumento das desigualdades, as pandemias, a erosão da democracia e dos direitos fundamentais, a intensificação da competição estratégica global e o avanço de tecnologias emergentes que colocam novos dilemas éticos, de segurança e de soberania. A isso se somam as mudanças no mercado de trabalho, a proliferação de fake news (notícias falsas) e a negação da ciência.

Manuel também apontou as vulnerabilidades que exigem atenção imediata, como a crescente fragmentação do multilateralismo, a polarização política e social e os desafios sociais que surgiram pós-pandemia. Em sua avaliação, enfrentar esse cenário requer uma agenda científica voltada à prevenção, à prontidão e à preparação das sociedades diante de crises complexas. Também destacou a necessidade de garantir empregos de qualidade para os mais jovens, com reforço da carreira científica como campo de trabalho, além de defender uma abordagem mais ousada da ciência, com processos simplificados, maior disposição para assumir riscos e novos procedimentos de avaliação e financiamento da ciência e inovação.

Dois exemplos foram apresentados como iniciativas estruturantes para uma agenda transformadora: a mudança de paradigma na pesquisa sobre o câncer, com foco na redução efetiva na mortalidade ao longo da próxima década; e o mapeamento holístico da saúde ambiental e da biodiversidade, visando reduzir desigualdades sociais agravadas e mortes pelos efeitos das mudanças climáticas.

Vídeo comemorativo

Um vídeo* em comemoração aos 125 anos da Fiocruz foi exibido durante a abertura do evento, relembrando momentos marcantes da história da instituição. A produção destacou desde a criação da Fundação e o papel de Oswaldo Cruz, passando pelas dificuldades no período da ditadura militar, o processo de redemocratização com a atuação de Sergio Arouca, a contribuição da Fiocruz para o Programa Nacional de Imunizações do Ministério da Saúde, até os trabalhos mais recentes. O vídeo foi produzido pela VídeoSaúde Distribuidora e pelo Canal Saúde, em parceria com a Coordenação de Comunicação Social da Presidência da Fiocruz.

*Com roteiro e direção de Wagner de Oliveira; edição e finalização de Marcos Renkert.