conteúdo principal

Icict recebe encontro inaugural do repositório Saberes Populares

Compartilhar:
X
Por
Assessoria de Comunicação da CCSP e do Icict, com informações de Thiago Ferreira (Saberes Populares)
Publicado em - Atualizado em
Coleção de objetos relacionados ao repositório Saberes Populares
Coleção de objetos relacionados ao repositório Saberes Populares

No final de agosto, o Centro de Tecnologia da Informação e Comunicação em Saúde (CTIC) do Icict sediou o encontro inaugural do repositório temático Saberes Populares, com lideranças de cinco favelas da cidade do Rio de Janeiro: Manguinhos, Maré, Cidade de Deus, Rocinha e Rio das Pedras. A ideia é que o repositório possa contribuir para construção coletiva de conteúdos digitais, além de incorporar coleções dessas favelas.

Parte de um projeto da Coordenação de Cooperação Social da Presidência da Fiocruz (CCSP), o repositório é uma plataforma gratuita, desenvolvida em acesso aberto, para valorizar os saberes populares, com armazenamento e organização da produção intelectual e de conteúdo digital de pesquisa.

Para a chefe do CTIC, Luciana Danielli, a iniciativa é estratégica para o Icict e a Fiocruz, ao se alinhar ao campo da informação, da comunicação e da memória e preservação dos saberes como um direito humano: "O projeto preza pela organização dos saberes em favelas, periferias, quilombos, comunidades tradicionais e originárias, não somente para dar visibilidade e organizar esses saberes, mas também buscar democratizar o acesso à informação e a esse patrimônio cultural e da saúde coletiva brasileira". Ao mesmo tempo, é uma forma de a Fiocruz promover um diálogo, mais horizontal e respeitoso, e reforçar o compromisso com uma memória popular e democrática, completou.

Debate

Ao longo da reunião, houve apresentações e relatos sobre o trabalho de participantes do projeto Impulso de Gerações, da CCSP, nas cinco favelas, além da participação de representante do site de notícias RioOnWatch, referência na apresentação das perspectivas das favelas sobre transformações urbanas do Rio, que atuará com a produção jornalística sobre os cinco territórios.  

O objetivo é tornar o repositório Saberes Populares um espaço de valorização, preservação e difusão das memórias faveladas, periféricas e de comunidades tradicionais, garantindo que essas narrativas sejam registradas, compartilhadas, ressignificadas e construídas pelas próprias comunidades locais.  

Para Monara Barreto, curadora do repositório e moradora do Complexo do Alemão, é importante registrar e salvaguardar produções periféricas e faveladas que mostram vidas, afetos, ancestralidades e formas de resistência, muitas vezes invisibilizadas pelas estruturas de poder: “Preservar memória não é apenas guardar documentos, mas reconhecer a potência de vozes, narrativas e vivências que resistem cotidianamente. Muitas das vezes essas produções são invisibilizadas pelas estruturas de poder”.  

O bibliotecário Thiago de Oliveira afirmou que pensar a memória das favelas, periferias e comunidades tradicionais é pensar em direitos: "Muitas das histórias dessas populações foram apagadas pela negação do direito à memória. Realizar uma ação de sistematização, tratamento, armazenamento e preservação desses saberes, de forma colaborativa e a partir de quem os constrói, é urgente e necessário para a promoção da justiça epistêmica”.

Entre as iniciativas participantes do projeto, estão o Museu Sankofa Memória e História da Rocinha; o Museu da Maré; a Agência de Comunicação Independente Lume, localizada em Rio das Pedras; o Jornal Comunitário Fala Manguinhos; o Projeto Flagra, inciativa social de fotografia na Cidade de Deus; o programa de documentação e pesquisa fotográfica do cotidiano das periferias Imagens do Povo, localizado na Maré; o Jornal Fala Roça, com notícias da Rocinha; e o site de notícias RioOnWatch, entre outras.  

“Estava ansioso para iniciar o processo de formação e conhecer essa iniciativa de relevância para nós, moradores das favelas e periferias. Sempre fomos tolhidos de nossos direitos à memória e à história por aqueles que estiveram no poder. Este processo abre espaço de troca e de fortalecimento de redes, reconhecendo as memórias como resistência e como direito”, afirmou Antônio Firmino, cofundador do Museu Sankofa.

Exposição

Os participantes realizaram uma dinâmica de exposição de objetos, fotografias, escritas e itens importantes preservados com o tempo, em ligação direta com lembranças pessoais dos participantes. A vivência trouxe a dimensão simbólica e pessoal da memória para serem experimentadas.  

“Foi um momento emocionante onde pudemos ver e conhecer as histórias por trás dos objetos, como fotografias, roupas e até alguns inusitados, como um facão, que representava uma memória de família.  Cada pessoa, com sua história e seu objeto, trouxe uma camada única para refletirmos juntos”, relatou Priscila Silva, representante do RioOnWatch.

Impulso de Gerações

O subprojeto Repositório Saberes Populares faz parte da meta do projeto 'Impulso de Gerações', que integra o programa Favelas e Periferias pelo Direito à Vida, iniciativa da CCSP, com recursos de emenda parlamentar, para realizar ações educacionais voltadas para promoção de saúde.

* Foto: Monara Barreto