Foi lançado na quinta-feira (3/10), o filme “Paracoco: endemia brasileira”, resultado de parceria entre o Icict, o Instituto de Pesquisas Clínicas Evandro Chagas (Ipec) e a Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca (Ensp) - e produzido pela VideoSaúde – Distribuidora da Fiocruz. A iniciativa é fruto de um projeto contemplado por edital de apoio promovido pela Cooperação Social da presidência da Fiocruz. Participaram da mesa de debate os pesquisadores Antônio Francesconi Valle e Márcia Lazera (substituindo Bodo Wanke), do Ipec, e Ziadir Coutinho, da Ensp, coordenadores científicos do filme, Eduardo Thielen (roteirista) e Sergio Brito (coordenador de produção), da VideoSaúde, e Ivi Tavares, coordenadora de Saúde do Movimento dos Sem Terra (MST) do Rio de Janeiro. A mesa foi mediada por José Leonídio Santos, coordenador da Coordenação de Cooperação Social da Fiocruz.
Doença endêmica e negligenciada na América Latina (o Brasil detém 80% dos casos), a paracoccidioidomicose, também conhecida como paracoco, é mais freqüente nas populações rurais e pode causar a morte se não detectada precocemente. Em muitos casos, é confundida com a tuberculose, pois pode apresentar um quadro de tosse persistente como único sintoma aparente.
“A paracoco é uma doença discriminada pelo próprio Ministério e as secretarias de saúde, que registram casos de paracoccidioidomicose como sendo blastomicose sul-americana, que não existe no Brasil, é uma doença típica dos povos norte-americanos e canadenses. Encontramos, em 70% dos estados, esse tipo de diagnóstico”, explicou Ziadir Coutinho, da Ensp. Segundo o pesquisador, é preciso construir sorologias que representem o nosso país, e o MS tem condições de mapear as ocorrências da doença para saber onde ela mata mais, onde interna mais, e fornecer equipamentos, kits para diagnóstico e pessoal de laboratório especializado nas especialidades estratégicas para atenção ao paracoco.
Antônio Francesconi, pesquisador do Ipec que também colaborou com o conteúdo científico do filme, ressaltou a importância da iniciativa para a disseminação de informações sobre a doença. “Essa doença negligenciada, que tanto compromete o povo brasileiro, precisa ser mais estudada. Tenho satisfação de ainda poder ensinar sobre ela o que aprendi com meus mestres no Ipec, e adoraria sair do hospital para ir a campo, atender a população rural tão castigada pela paracoccidioidomicose”.
“A paracoco na sua forma comum, vive à sombra da tuberculose, em função das ocorrências pulmonares, e acomete uma população muito humilde, que está a reboque do sistema de saúde”, afirmou Márcia Lazera, do Ipec. Na opinião da pesquisadora, a doença é facilmente tratável quando detectada precocemente. “A grande sacada do filme é que aponta para o que ocorre comumente, ou seja, pacientes com queixa respiratória e diagnóstico negativo para tuberculose, mas que não são logo diagnosticados com paracoccidioidomicose”, pontuou.
Ivi Tavares, coordenadora de Saúde do MST do Rio, ressaltou a importância do papel da Fiocruz como disseminadora do conhecimento em saúde para a população, por meio do audiovisual. “A doença acomete o trabalhador rural, que tem muito pouco acesso à assistência em saúde. A realidade do campo é muito diferente da realidade nos centros urbanos”.
Mesa de debate do filme "Paracoco: endemia brasileira" (da esq. para a dir.): Ziadir Coutinho (Ensp), Antônio Francesconi Valle (Ipec), Sergio Brito (VSD), Leonídio Santos (Coordenação de Cooperação Social da Fiocruz), Márcia Lazera (Ipec), Eduardo Thielen (VSD) e Ive Tavares (MST). Fotos: Naldo Fernandes (Ascom/Icict/Fiocruz)
Transformar pesquisas científicas em produção audiovisual que promova o acesso ao conhecimento sobre as doenças negligenciadas, como o paracoco, vem sendo uma tarefa realizada com afinco pela VideoSaúde. Em 2012, por exemplo, a distribuidora finalizou a produção de 12 filmes sobre doenças como esquistossomose e leishmaniose visceral, entre outras, fruto do projeto Comunicação em Saúde, realizado a partir de convênio de cooperação com a Secretaria de Vigilância em Saúde (SVS/MS).
Para Eduardo Thielen, roteirista de vários destes títulos e também de “Paracoco: endemia brasileira”, o filme representa um desafio comum a todas as produções sobre doenças negligenciadas: a tarefa de transmitir de forma clara o ponto de vista do paciente. “Vendo o produto final, fico feliz em observar que nos comunicamos com a população, não apenas com o profissional que lida com essas endemias, algumas pouco conhecidas de muitos deles”, avaliou.
Sergio Brito, coordenador da produção do filme, ressaltou a missão da VideoSaúde: compreender a prática da comunicação audiovisual como um direito à informação, ao conhecimento, não como ferramenta. “Ouvir a voz do outro é a nossa meta. Para isso, a equipe percorreu 11 mil quilômetros na realização dessa produção. Agradeço a quem se dispôs a percorrer esse itinerário, e também à Cooperação Social da Fiocruz, que compreendeu o projeto e viu a sua importância para a sociedade”.