O Programa de Pós-Graduação em Informação e Comunicação em Saúde (PPGICS/Icict/Fiocruz) divulga duas defesas de teses de doutorado a serem realizadas em janeiro, na sede do programa.
A primeira será da aluna Monica Lucia Gomes Dantas, sobre o tema das mediações sobre gênero, sexualidade e violências, no âmbito do Programa Saúde na Escola para o Plano Brasil Sem Miséria. A orientação doi fo professor André de Faria Pereira Neto (PPGICS/Icict/Fiocruz). A defesa será realizada na terça-feira, 30/01/2018, às 9h, na Sala 213 do Prédio da Expansão da Fiocruz - Av. Brasil, 4.036.
Na quarta-feira, 31/01/2018, às 9h, haverá a defesa de doutorado de Claudio Maurício Vieira de Souza, sobre a informação em saúde relativa ao escorpianismo no Brasil, avaliando as estatítiscas sobre acidentes e intoxicações provocadas por escorpiões no Brasil, sob orientação da professora Rosany Bochner (Icict/Fiocruz) Os resumos dos dois trabalhos a serem defendidos estão disponíveis a seguir.
Defesa de Tese de Doutorado
Título: Mediações Sobre Gênero, Sexualidade e Violências: uma proposta de curso EAD no âmbito do Programa Saúde na Escola para o Plano Brasil sem Miséria
Aluna: Monica Lucia Gomes Dantas
Orientador: André de Faria Pereira Neto (PPGICS/ICICT/FIOCRUZ)
Banca:
Titulares
Dr. Wilson Couto Borges - PPGICS/ICICT/FIOCRUZ
Dr. Nilson Alves de Moraes - PPGICS/ICICT/FIOCRUZ
Drª. Lúcia Maria Dupret Vassalo do Amaral Baptista - ENSP/FIOCRUZ
Drª. Maria Angélica Costa - ENSP/FIOCRUZ
Suplentes:
Drª. Adriana Kelly Santos - PPGICS/ICICT/FIOCRUZ
Drª. Rodrigo Alcântara de Carvalho - ENSP/FIOCRUZ
Data: 30/01/2018
Horário: 9h
Local: Sala 213 do Prédio da Expansão
Resumo: As violências de gênero e por orientação sexual são frequentes no ambiente escolar. Essas violências têm como pano de fundo a violência cultural representada pelo machismo. Este trabalho procurou analisar esses temas, a partir do arcabouço teórico das mediações e representações culturais, no campo da comunicação e saúde, priorizando a perspectiva das múltiplas mediações proposta por Orozco Gómez. O problema central da tese é a formação insuficiente dos professores da educação básica no que se refere aos temas das violências de gênero e por orientação sexual. A partir dessa premissa, como produto para o Plano Brasil sem Miséria, no qual o doutoramento se circunscreve, a tese apresenta a proposta de elaboração de um curso à distância sobre esses temas, destinado aos professores da educação básica com atuação no Programa Saúde na Escola, com alcance nacional. Foram analisados os limites e potencialidades da educação à distância, incluídas as mediações pedagógica e tecnológica, no contexto da educomunicação. A pesquisa qualitativa consistiu na realização de três oficinas com trabalhadores da saúde e da educação em uma clínica da família do Rio de Janeiro. O objetivo das oficinas foi analisar as mediações que se processam na recepção de imagens e a produção de sentidos de profissionais da saúde e da educação sobre violências de gênero e por orientação sexual, no contexto do Programa Saúde na Escola. Na análise dos dados foi utilizada um quadro misto, que incluiu as mediações individual, contextual, institucional e de referência, de Orozco Gómez e alguns fatores de mediação propostos por Araújo, que são as motivações e interesses, e as relações. Utilizamos também na análise o método de Interpretação dos Sentidos. Os trabalhadores da saúde e da educação associaram o machismo aos padrões culturais de inferiorização do feminino e às violências (simbólica, psicológica, física e sexual) decorrentes. Os participantes também associaram a homofobia com os padrões culturais heteronormativos e com questões religiosas. A mediação institucional religiosa pode se tornar um obstáculo para o debate sobre gênero e sexualidade nas escolas, no contexto conservador da atualidade. O curso on-line proposto sofreu algumas modificações em seu conteúdo a partir dos resultados da pesquisa realizada.
Defesa de Tese de Doutorado
Título: Informação Relevante Sobre Escorpionismo: subsidiando políticas públicas para populações expostas
Aluno: Claudio Maurício Vieira de Souza
Orientadora: Rosany Bochner (PPGICS/ICICT/FIOCRUZ)
Banca:
Titulares
Drª. Maria Cristina Soares Guimarães - PPGICS/ICICT/FIOCRUZ
Dr. Paulo Roberto Borges da Silva Jr - PPGICS/ICICT/FIOCRUZ
Drª. Elba Regina Sampaio Lemos - IOC/FIOCRUZ
Drª. Kizi Mendonça de Araújo - ICICT/FIOCRUZ
Suplentes:
Drª. Cicera Henrique da Silva - PPGICS/ICICT/FIOCRUZ
Drª. Rosane Abdala - ICICT/FIOCRUZ
Data: 31/01/2018
Horário: 9h
Local: Sala 213 do Prédio da Expansão
Resumo: Embora de muito pouca visibilidade social, as picadas com escorpiões no Brasil, apresentaram, segundo o SINAN, um aumento de 700% entre os anos de 2000 e 2015, especialmente entre os estados do Sudeste e do Nordeste do país. E ainda segundo esse Sistema de Informação, em 2014, o número de óbitos decorrentes de picadas de escorpiões superou o número de registro de casos fatais causados pelo ofidismo. Os óbitos por escorpionismo também são de notificação obrigatória ao SIM e como são o desfecho negativo dos casos mais graves de intoxicação, que devem obrigatoriamente ser tratados pela internação do acidentado, também deveriam constar no banco de dados do SIH-SUS. No entanto, analisando o período entre 2001 e 2015, os dados desses eventos, para o estado do Rio de Janeiro apresentam grande discrepância nesses Sistemas de Informação, sendo encontrados inicialmente 18 casos notificados ao SINAN, 10 ao SIM e apenas 1 ao SIH-SUS. Esse achado, somado ao fato do Rio de Janeiro ter notificado ao SINAN, entre todos os estados do Sudeste, apenas 1,2% dos acidentes com escorpiões no período ana-lisado, indicou a possibilidade da aplicação do conceito de evento sentinela em Saúde, com o objetivo de identificar fragilidades na informação sobre o agravo e dos óbitos decorrentes dos acidentes escorpiônicos nesse estado. E, através da incorporação da análise do contexto e das determinantes sociais envolvidas na exposição ao risco, e pelo exame da dinâmica dos óbitos, avaliar a aplicação do conceito de “doença negligenciada” a esse agravo. Como o escorpionismo é uma questão que se situa na fronteira entre o meio ambiente, a Saúde e a sociedade e há um predomínio absoluto de estudos sobre os aspectos biomédicos do agravo, para a tentativa de abordagem mais adequada, aplicamos um desenho metodológico interdisciplinar, quanti qualitativo nas investigações comparativas e detalhadas dos bancos de dados dos três Sistemas de Informação onde os óbitos devem ser registrados e no exame das fichas de notificação ao SINAN e Declarações de Óbito do SIM. Aplicamos ferramentas de análise de conteúdo às falas e discursos dos familiares que entrevistamos e dos trabalhadores do SUS, responsáveis pela operacionalização das ações previstas na política pública vigente voltada ao agravo. Através dessa metodologia buscamos criar uma comunidade discursiva polifônica e inclusiva, permitindo a participação dos diferentes atores envolvidos na tentativa de superar a condição de invisibilidade em que vivem. Para aproximação ao contexto dos municípios, onde confirmamos a real ocorrência dos eventos de interesse nesse estudo, utilizamos indicadores demográficos, ambientais, educacionais, econômicos e de Saúde. Nossos resultados apontam a ocorrência de erros de preenchimento e digitação, incompletudes e inconsistências, duplicidades e casos de óbitos que não ocorreram. Confirmamos 13 óbitos reais decorrentes de acidentes escorpiônicos, sendo 11 notificados ao SINAN, 13 ao SIM e somente 3 ao SIH-SUS. A persistência desse quadro de desequilíbrio nos registros de óbito, mesmo depois da aplicação de nossa metodolo-gia, indica a necessidade do envolvimento e treinamento dos profissionais de Saúde responsá-veis pela manipulação dos Sistemas de Informação para apropriação dos usos e potencialidades, chamando atenção a baixa confiabilidade dos dados do SIH-SUS sobre o escorpionismo e seus óbitos, o que indica a necessidade de aprimoramento no uso desse sistema para sua inclusão nesse tipo de investigação. Outro indicativo desse conjunto de resultados é no sentido da necessidade da análise comparativa dos dados dos diferentes Sistemas de Informação nas inves-tigações obrigatórias desses eventos. Nossa análise confirmou óbitos somente com pessoas menores de 14 anos, e que em 90 % dos casos que confirmamos no SINAN houve atraso no início do tratamento do acidentado devido a algum motivo. Em conjunto, esses achados indicam a necessidade de revisão urgente da lógica de distribuição dos centros de referência que garantiriam o direito ao acesso gratuito ao tratamento de qualidade conforme é previsto no SUS. Os resultados do perfil da ocorrência dos óbitos e da análise dos indicadores de contexto, demonstram que os óbitos decorrentes de acidentes escorpiônicos confirmados nesse estudo, se concentram entre os município mais pobres, com piores níveis de desigualdade, baixa escolaridade média e com modelos de ocupação do solo que favorecem o escorpionismo. As famílias que vivenciaram os acidentes que evoluíram para os óbitos, moram nesses municípios há décadas, poucos têm empregos formais, a maioria declara renda em torno de um salário mínimo, além não ter concluído a educação básica. Os profissionais de Saúde não desempenham ações sistemáticas e permanentes de atenção ao escorpionismo e suas condições efetivas de trabalho são consideradas insuficientes. Das falas conjuntas dessas pessoas se construiu um quadro com a representação de suas vivências, percepções, expectativas, ressentimentos e sugestões para melhoria do modelo de atenção vigente. Esse quadro norteia a nota técnica que acompanha esse estudo. Aplicando modelos para análise e enfrentamento de doenças negligenciadas, confirmamos que as peculiaridades desse agravo não permitem sua abordagem em um arcabouço conceitual criado para outros problemas de saúde, indicado o abandono do escorpionismo sob a ótica do desenvolvimento de políticas específicas para seu enfrentamento e sustentando a atribuição da condição de negligencia às populações expostas a esse agravo no Rio de Janeiro.