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RECIIS lança dossiê ‘Comunicação nas instituições de saúde e saúde na comunicação’

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Por
Roberto Abib| RECIIS/Icict
Publicado em - Atualizado em

O conhecimento da Comunicação, Informação e Saúde consiste em um domínio eficiente de técnicas para prescrever à sociedade condutas saudáveis? Esse questionamento atravessa a terceira edição de 2025 da RECIIS. 

Primeira parte do dossiê ‘Comunicação nas instituições de saúde e saúde na comunicação’, número reúne análises sobre decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) na moderação de conteúdo das plataformas digitais; questões climáticas e significados sobre a realização da COP30 na Amazônia, entre outros assuntos.  

A Revista Eletrônica de Comunicação, Informação & Inovação em Saúde (RECIIS) é editada pelo Icict/Fiocruz. 

Editorial

A nova composição da editoria científica da RECIIS, com Wilson Couto Borges, Christovam Barcellos e Kizi Mendonça de Araújo, discute a centralidade da Comunicação e Informação como inovação em saúde, quando respostas são buscadas para esse campo do saber, diante de fenômenos como a desinformação e a hesitação vacinal. Nesse sentido, os editores propõem um deslocamento no olhar a Comunicação e a Informação apenas como estratégia e conjunto de técnicas para se alcançar maior eficiência no convencimento da população à determinada orientação. Dessa forma, defendem que tal mudança de percepção corresponde a um processo decolonial de rompimento da dominação de determinadas áreas do conhecimento sobre outras no campo da Saúde Coletiva.  

Comunicação, Saúde e práticas sociais

Nessa edição, é apresentada a primeira parte do dossiê ‘Comunicação nas instituições de saúde e saúde na comunicação’. De acordo com as editoras convidadas, Mariella da Silva de Oliveira-Costa e Sabine Righetti, a proposta da coletânea teve como objetivo reunir pesquisas que demonstrassem como a comunicação e saúde se encontram nas práticas sociais, compreendendo que comunicar saúde não se limita a divulgar prescrições de condutas consideradas saudáveis por autoridades sanitárias, nem à transmissão de informações sobre realizações da gestão.  

A primeira parte da coletânea reúne pesquisas que observam aspectos da comunicação no cotidiano de trabalho de profissionais da saúde e análises da saúde em processos comunicacionais variados, como na publicidade, nas redes sociais digitais e em jornais impressos. Albarado et al. analisam campanhas institucionais sobre a prevenção ao HIV e à Aids entre 2012 e 2022 e identificam o uso de histórias reais como redução de estigmas e aproximação do público, porém de maneira alarmista, o que gera poucas oportunidades de interação e diálogo entre as pessoas nas redes sociais digitais.  

Já Jussara Vieira da Silva e Vanessa Veiga de Oliveira analisam os comentários de usuários on-line sobre o videoclipe Vacina Butantan – Remix Bum Bum Tam Tam, de MC Fioti, publicado no canal KondZilla, no YouTube. A pesquisa considerou como inovador o processo de comunicar saúde na pandemia fora do formato e linguajar institucional e governamental. No entanto, pela análise dos comentários, observou-se que a notoriedade do clipe ficou mais evidente do que sua capacidade de gerar discussões sobre a vacinação.

Irene Rocha Kalil e Adriana Cavalcanti de Aguiar constatam as várias percepções e a difusão sobre comunicação em saúde com egressos de residências no Brasil, enfatizando a relação com os pacientes, os familiares e os colegas de equipe. O dossiê se encerra com o artigo de Ramos et al., em que os autores analisam jornais impressos brasileiros considerando-os necessários na discussão sobre violência e violação de direitos em relação às pessoas idosas.

Moderação de conteúdo, COP30 e os saberes tradicionais

Em Notas de Conjuntura, Alexandre Arns Gonzales apresenta um breve histórico da disputa em torno das práticas de moderação de contas e conteúdo das plataformas digitais, na configuração do debate público e político brasileiro, envolvendo a governança global da internet e o poder das big techs.  

Na seção Entrevista, Eloisa Beling Loose narra sua trajetória de pesquisa sobre mudanças climáticas e observa que as discussões sobre a infraestrutura da COP30 têm sido superficiais, diante do simbolismo da sua realização na Amazônia e da necessidade de ouvir as vozes de ribeirinhos, povos quilombolas e indígenas, cujos saberes resistem há muito tempo para preservação ambiental e enfrentamento das mudanças climáticas perante um modelo econômico insustentável. Na seção Resenha, a partir de um documentário, Fernando Ferreira Carneiro et al. discutem as experiências da Vigilância Popular em Saúde (VPS) como um paradigma inovador em saúde coletiva por reconhecer e valorizar o conhecimento científico; os saberes tradicionais e locais; e as experiências territoriais, promovendo o diálogo intercultural como método.

Por meio de submissão em fluxo contínuo, essa edição apresenta artigos originais que abordam a desinformação e o uso de tecnologias nos serviços de saúde. Allysson Martins e Juliana Teixeira analisam as estratégias de agências de checagem no combate à desinformação da covid-19 em 2020. Jéssica Louza Pereira aborda as políticas de comunicação das universidades federais brasileiras no enfrentamento à desinformação científica. Serpa et al. investigam a popularidade das Práticas Integrativas e Complementares antes e durante a pandemia de covid-19 por meio da plataforma Google Trends. Já Souza et al. discutem a importância do uso de tecnologias no maior controle e gerenciamento dos serviços de saúde na Atenção Primária em Saúde.

A edição também traz artigos originais que discutem perspectivas sobre vida e morte e saúde mental. Campelo et al. tratam da abordagem sobre cuidados paliativos nos jornais brasileiros. Denise Tavares e Renata Rezende Ribeiro problematizam a circulação do tema suicídio nas plataformas de mídia e Raquel Marques Carriço Ferreira e Ysla Beatriz Xavier Feitosa tratam das abordagens do tema depressão nas telenovelas brasileiras.

Esse número divulga ainda, na íntegra, o posicionamento do Fórum de Editores de Saúde Coletiva contrário ao entendimento de critério de ineditismo adotado por algumas revistas, que levaria à recusa de artigos oriundos de dissertações e teses disponíveis em repositórios institucionais. 


*A RECIIS é uma das iniciativas da Política de Acesso Aberto e não cobra taxa de processamento de artigos. Ela faz parte do Portal de Periódicos Fiocruz junto a outras oito publicações que oferecem livre acesso aos seus conteúdos.  

** Arte: Venicio Ribeiro| Editoria Científica/Icict; Foto: João Roberto Ripper| Fiocruz Imagens.