O segundo dia (14/8) do "Seminário de Informação e Indicadores em Saúde: questões metodológicas e demográficas", organizado pelo Laboratório de Informação em Saúde (Lis/Icict) e o grupo de trabalho 'População e Saúde' da Associação Brasileira de Estudos Populacionais (Abep), foi aberto com a palestra da coordenadora da área de Demografia e Informação sobre População, da Organização das Nações Unidas (Celad/Cepal/ONU), Magda Ruiz, que falou sobre "A saúde nos censos de 2010 na América Latina: aspectos conceituais, metodológicos e de divulgação da informação".
Em sua palestra, Magda Ruiz abordou, dentre outros temas, a questão de grupos específicos que muitas vezes não merecem a devida atenção nos inquéritos dos censos demográficos, citando em especial os imigrantes, cujas diferenças culturais implicam em atendimentos muitas vezes precários nos serviços de saúde. Incluiu nesse grupo também os centegenários, idosos com mais de 100 anos, que igualmente não estão sendo contemplados nos Censos, embora a tendência mundial seja a longevidade.
Magda Ruiz também mostrou um panorama dos censos realizados em toda a América Latina e alertou sobre a importância de haver censos com periodicidade regular. Segundo ela, a qualidade dos inquéritos realizados implicará em informações relevantes para ajudar a traçar as políticas públicas de saúde de cada país e região.
Fechando a parte da manhã, com a comunicação "A saúde nos censos do Brasil", Laura Wong e Cássio Turra, do Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional (Cedeplar) da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Gabriel Borges, do IBGE, e Christovam Barcellos, do Icict/Fiocruz, em mesa coordenada por Luis Patrício Ortis, da Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados - SEAD, abordaram aspectos como divergências entre os números do Censo, do Datasus e do Registro Civil, tanto em questões da mortalidade materno-infantil, como na mensuração da idade adulta de centenários.
Christovam Barcellos apresentou informações sobre saneamento em todo o território nacional e chamou a atenção para o número de pessoas com geladeiras, celulares e casas com banheiro, mas que sequer têm acesso à água ou ao saneamento básico.
Gabriel Borges, do IBGE, falou sobre os problemas e limitações do recenseamento, mostrando a importância da informação coletada para políticas e ações em saúde, as inovações gerenciais, metodológicas e tecnológicas trazidas pelo Censo brasileiro. Ele falou também das dificuldades em se recensear 190 milhões de brasileiros e 60 milhões de residências.
Magda Ruiz alertou para os erros de censos feitos em vários dias e respondidos por muitas pessoas de um mesmo domicílio. Para ela, "há a perda da qualidade da informação", devido a variação nas respostas. Na avaliação dos palestrantes, bem resumida por Cássio Turra, a questão, na maioria das vezes, está na base de dados. “É preciso olhar com desconfiança os dados díspares, cruzando os números, utilizando outros inquéritos para se ter uma melhor ideia da realidade”, analisa.
A parte da tarde foi iniciada com o "Panorama das Pesquisas na pós-graduação em Demografia, Informação em Saúde e Saúde Pública", no qual alunos de mestrado e doutorado da Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca (Ensp/Fiocruz), da Universidade de Campinas (Unicamp) e da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) expuseram suas pesquisas, que abordam temas como gênero, raça e violência; mortalidade por homicídio; internação e expectativa de vida de idosos; mortalidade infantil e acesso ao parto nos municípios brasileiros.
Finalizando o dia, Allan Nuno de Sousa, coordenador do Departamento de Atenção Básica, do MS, e Dália Romero, pesquisadora do Lis/Icict e coordenadora do seminário, falaram sobre monitoramento e avaliação da atenção básica e os sistemas on-line de indicadores de saúde. Allan Nuno ressaltou o Plano Nacional de Melhoria do Acesso e da Qualidade da Atenção Básica (PMAQ), sistema de avaliação que permite aos profissionais de saúde e à população usuária do SUS avaliar as unidades de saúde, o que implicará em certificações de qualidade para as unidades. Allan Sousa disse que 17.304 equipes participantes e 37.533 usuários foram entrevistados, e cerca de 9.300 unidades já foram avaliadas, o que corresponde a 53,8% do total.
Para encerrar o Seminário, Dália Romero falou sobre os indicadores on-line de saúde para a Gestão do SUS e passou a palavra para Heglaucio Barros, do Icict, que mostrou os sistemas desenvolvidos pelo Instituto e que vêm sendo utilizados como referência para o Ministério da Saúde. São eles o Monitor Aids - Sistema de Monitoramento de Indicadores do Programa Nacional de DST e Aids (MonitorAids); MonitorIMI - Sistema de Monitoramento dos Indicadores de Mortalidade Infantil; Atlas Água Brasil - Sistema de Avaliação da Qualidade da Água, Saúde e Saneamento; Proadess - Projeto de Avaliação de Desempenho do Sistema de Saúde; Sisap-Idoso - Sistema de Indicadores de Saúde e Acompanhamento de Políticas do Idoso; além do QualiIAM - Sistema de Qualidade da Atenção ao Infarto Agudo do Miocárdio, exclusivo para hospitais públicos e privados.