Acessibilidade geográfica ao fornecimento de soros antiofídicos é tema de artigo publicado na Plos One

por
Assessoria de Comunicação do Icict Fiocruz
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31/01/2022

Crédito da imagem: Cobra em exposição no Museu da Vida | Vinícius Marinho | Fiocruz Imagens

Estudo realizado pelos pesquisadores Ricardo Dantas e Diego Ricardo Xavier, do Laboratório de Informação em Saúde, do Icict/Fiocruz, e Maurício Gonçalves e Silva, do IBGE, aponta que, na maior parte dos municípios onde há maior risco de picaduras de cobra, tempo para se obter o soro antiofídico pode ser fatal. 

Publicado na revista científica on-line Plos One, o artigo “Geographical accessibility to the supply of antiophidic sera in Brazil: Timely access possibilities” apresenta informações sobre a possibilidade de se chegar às unidades de saúde provedoras de soro antiofídico no Brasil a partir da relação entre distribuição populacional e tempo de deslocamento, considerando-se que o tempo estimado ideal para a aplicação do soro seria de até duas horas após a picada da cobra. O estudo levantou áreas com alta incidência de acidentes ofídicos, com população dispersa, o que dificultaria o socorro, como na região norte do Brasil, mas também em áreas do Maranhão e Mato Grosso, que mostra o acesso ao soro antiofídico nos estados brasileiros. 

O risco da demora é que pessoas possam utilizar de métodos caseiros para controlar os efeitos da picada, podendo levar a complicações físicas como amputações de membros ou até a morte. 

Incidência de acidentes

Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), a picada de cobra é considerada como uma doença tropical negligenciada, devido ao alto número de acidentes em várias regiões do mundo, especialmente, nas áreas rurais de países tropicais, e que mata entre 81 mil e 138 mil pessoas e causa cerca 400 mil casos de incapacidade permanente por ano, como amputações ou perda definitiva da visão, além do estresse pós-traumático que vítimas sofrem após as picadas. 

O pesquisador chama a atenção para duas situações recorrentes na análise dos dados levantados. “O Amazonas é um estado grande, com maior dificuldade de deslocamento e grandes áreas muito distantes dos polos de atendimento, mas a maior parte da população é mais concentrada, como nas regiões de Manaus e Parintins, por exemplo. Ou seja, muitas vezes é uma distância urbana que se tem que percorrer para acessar os soros”. Já o Maranhão, segundo Dantas, é o oposto: “a população é mais dispersa no território e há grandes proporções de população distantes dos polos de atendimento, por isso é que se tem quase 30% da população local há mais de duas horas de distância do atendimento”.   

O levantamento cruzou dados populacionais do IBGE, com informações do Sinitox (Sistema Nacional de Informações Tóxico-Farmacológicas (icict/Fiocruz), do Sistema de Informação de Agravos de Notificação - Sinan (Ministério da Saúde), além de usar sistemas como Google Maps e Google Street View e até mesmo o NASA’s SRTM - Shuttle Radar Topography Mission. 

Revisão de estratégias

O pesquisador Ricardo Dantas destaca as possibilidades de utilização da metodologia de avaliação de acessibilidade de serviços de saúde, utilizada nesse estudo: “isso é muito importante, especialmente para aquelas questões em saúde que o tempo é determinante para um cuidado oportuno”. O estudo também revela as desigualdades persistentes na saúde brasileira, como explica Dantas: “se você considerar que algumas das áreas com maior incidência de acidentes ofídicos na região amazônica, são também as áreas que têm a maior dificuldade para o acesso a oferta de soros”.

Na tabela abaixo, publicada no artigo, é possível observar as dez primeiras cidades em que a taxa de ocorrência de acidentes com cobras é mais alta e também a população que não conta com algum posto que tenha soro antiofídico por perto:

“Não é preciso necessariamente pensar em se montar um novo posto de saúde, mas sim, considerar a hipótese de melhor equipar os postos já existentes e melhorar as condições de transporte sanitário”, explica Dantas, sugerindo que “uma coisa são ambulâncias quando se tem transporte rodoviário, mas na região amazônica, por exemplo, tem que se pensar em transporte pelos rios ou até mesmo em deslocamentos aéreos”. 

Dantas destaca que o estudo leva a uma necessidade de se pensar “não só em unidades de saúde, mas em estratégias nas áreas com baixa densidade populacional, como o norte de Mato Grosso, por exemplo, que tem uma oferta de soros que não dependa de um posto de saúde.”  

Para os pesquisadores, a ideia é que o estudo auxilie prefeituras e população a pensar em lógicas de distribuição de novos estabelecimentos, em disponibilizar soros para aqueles postos que já existam ou criar oportunidades de transferência desses pacientes que sofrem acidentes ofídicos, contribuindo para o planejamento dessas ações. 

O artigo está disponível no site da PlosOne e para acessá-lo, clique aqui 

 

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