Durante o 14º Congresso Brasileiro de Saúde Coletiva – Abrascão 2025, em novembro, um grupo de pesquisadores lançou uma carta aberta à comunidade da saúde coletiva e aos gestores de saúde, com a proposta de criar a Rede Brasileira de Epidemiologia do Câncer. A carta foi resultado da Oficina para Integração entre Grupos de Pesquisa em Epidemiologia do Câncer no Brasil.
O objetivo do grupo de signatários, incluindo os professores do Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Informação e Comunicação em Saúde (PPGICS) e pesquisadores do Icict Célia Landmann Szwarcwald e Marcio Sacramento, é contribuir com a redução “de iniquidades no cuidado ao câncer”, doença não transmissível que representa a segunda causa de morte no país, conforme indicado no documento.
São objetivos da Rede: fortalecer a colaboração interinstitucional; consolidar um espaço de articulação política e científica; produzir e construir indicadores; promover a divulgação de conhecimento de qualidade; e, assim, contribuir com a redução de iniquidades no cuidado ao câncer.
Também como proposta de ação inicial da Rede, está a criação do Observatório Brasileiro de Epidemiologia e Informação em Câncer, para organizar e reunir informações de diferentes fontes e oferecer dados atualizados e precisos sobre o câncer no Brasil. O objetivo é ajudar, por meio de boletins, relatórios e painéis interativos, “a criar estratégias mais eficazes para combater a doença e apoiar a elaboração de políticas públicas de saúde.”
Para a pesquisadora Célia Landmann, o câncer é um dos maiores desafios para a saúde pública: "Além de atingir diferentes órgãos do corpo humano — exigindo, portanto, abordagens terapêuticas distintas — sua ocorrência está fortemente associada a fatores socioeconômicos, ambientais e a comportamentos relacionados à saúde". Nesse contexto, Célia coloca o papel do Icict como fundamental: "Trabalhamos com informação em saúde e comunicação, contribuindo para a produção, análise e divulgação de dados que evidenciam hábitos prejudiciais à saúde. Um exemplo é a Pesquisa Nacional de Saúde de 2019, que revelou como os trabalhadores brasileiros são afetados pela exposição a agrotóxicos, materiais radioativos e resíduos urbanos, bem como pelo consumo frequente de álcool e alimentos ultraprocessados, além do tabagismo passivo no ambiente de trabalho", completa.
Para Márcio Sacramento, coordenador do PPGICS e membro da Comissão de Epidemiologia da Abrasco, a carta aberta representa um marco importante na organização da resposta do campo da Saúde Coletiva ao desafio do câncer no país. "Ao propor a criação da Rede e do Observatório, o documento explicita que não se trata de produzir mais dados, mas de integrar melhor as bases existentes, qualificar o seu uso e transformar isso em evidências acessíveis para a gestão, a atenção e o controle social em saúde", explica Sacramento. A adesão do Instituto à iniciativa reforça o papel estratégico do mesmo e do PPGICS na formação de profissionais, no desenvolvimento de metodologias analíticas e na produção de plataformas e painéis que aproximem a pesquisa da prática do SUS: "No Icict, trabalhamos justamente na interface entre informação, comunicação e saúde, com forte compromisso com a transparência, a interoperabilidade dos sistemas e a difusão de conhecimento confiável para reduzir iniquidades".
"Ao fortalecer essa rede colaborativa em torno da epidemiologia do câncer, damos um passo decisivo para qualificar políticas públicas, enfrentar a desinformação e afirmar o conhecimento em saúde como bem público indispensável à cidadania e à defesa do SUS", complementa Sacramento.
Os profissionais que assinam a carta estão vinculados a diversas instituições de ensino, pesquisa, atendimento e gestão, incluindo outras representações na Fiocruz, como da Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca (Ensp), da Fiocruz Minas e da Fiocruz Amazônia.