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Em conferência sobre clima e saúde, pesquisador destaca articulação entre pesquisa, políticas e movimentos sociais

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Ariene Rodrigues (Observório Clima e Saúde)
Publicado em - Atualizado em
Foto de apresentação do pesquisador Christovam Barcellos na 5ª Conferência Global sobre Clima e Saúde. Foto: divulgação Observatório de Clima e Saúde
Foto de apresentação do pesquisador Christovam Barcellos na 5ª Conferência Global sobre Clima e Saúde. Foto: divulgação do Observatório de Clima e Saúde.

“Governo, academia e sociedade civil são pilares de um tripé que algumas vezes se desestabiliza, como vimos em anos recentes, mas que deveria sustentar as ações de mitigação, adaptação e todo o enfrentamento da crise climática.” A afirmação é do pesquisador e um dos coordenadores do Observatório de Clima e Saúde (Icict/Fiocruz), Christovam Barcellos. A declaração, feita após sua participação na 5ª Conferência Global sobre Clima e Saúde, realizada em Brasília entre os dias 29 e 31/7, destaca a necessidade de maior articulação entre pesquisa, políticas públicas e movimentos sociais. O evento fez parte da agenda de preparação para COP30 em Belém, onde a saúde deve ter papel de destaque.

Na ocasião, Christovam participou do Climate & Health Action Plan Satellite Meeting, uma atividade voltada à apresentação e discussão de projetos que promovem engajamento comunitário e estratégias de adaptação em saúde frente às mudanças climáticas. Para o pesquisador, encontros como esse, que reúnem diferentes setores, são essenciais para avançar em soluções mais eficazes e justas.

“Não dá para fazer pesquisa trancado em laboratório, nem promover ação social sem considerar dados científicos e informações institucionais. Da mesma forma, o governo precisa ouvir a experiência acumulada por pesquisadores e comunidades para desenvolver políticas mais adequadas aos territórios”, afirmou.

Ainda durante a conferência, organizações da América Latina e Caribe lançaram o manifesto 'Posição Comum da América Latina e o Caribe sobre Mudança Climática e Saúde'. A iniciativa destaca a vulnerabilidade da região diante dos impactos climáticos, agravada pelas dinâmicas geopolíticas atuais, e defende maior protagonismo do Sul Global nas negociações climáticas globais pautadas na COP30.

O papel de um observatório — seja ele regional ou nacional — é observar experiências e buscar padrões, aprendizados.

Soluções locais como possíveis respostas globais

Enquanto o manifesto aponta a importância de representação política nos grandes acordos internacionais, experiências locais apresentadas durante o evento reforçaram que muitas das soluções já estão sendo construídas nos territórios. Favelas urbanas, comunidades indígenas, zonas rurais e regiões ribeirinhas de diferentes países compartilham iniciativas que, mesmo assentadas em contextos específicos, oferecem ideias relevantes para o enfrentamento da emergência climática em todo o planeta.

A favela da Maré, no Rio de Janeiro, é um exemplo citado por Barcellos. Localizada próxima à Fiocruz, a comunidade enfrenta desafios ambientais e sociais variados. Ainda assim, grupos de moradores têm desenvolvido respostas aos problemas agravados pelas mudanças climáticas.

“O papel de um observatório — seja ele regional ou nacional — é observar experiências e buscar padrões, aprendizados. O que elas têm em comum? Que soluções funcionaram em um território e podem ser adaptadas a outro?”, indica o coordenador.

Essa visão participativa orienta as ações do Observatório de Clima e Saúde. A partir de dados produzidos por diferentes instituições, a equipe monitora riscos e tendências, ao mesmo tempo em que promove o diálogo com a população por meio de ações de campo, escuta e oficinas. Tecnologias e dados ajudam a compreender o cenário global, mas também a enxergar a realidade de cada território, permitindo que comunidades e gestores participem ativamente do enfrentamento que é, ao mesmo tempo, local e global.

“É preciso compreender como o aumento médio de temperatura no planeta pode gerar crises de saúde locais, como as inundações no Rio Grande do Sul e a seca na Amazônia, ambas ocorridas em 2024. É a partir desse diagnóstico que poderemos apontar caminhos para a adaptação”, afirma Barcellos.

Agenda de integração

No fim de agosto, dois coordenadores do Observatório estarão na região Amazônica para, junto a governo local, população e outras organizações, monitorar os impactos das mudanças climáticas na saúde. Em outubro, a equipe estará no sertão da Paraíba para trabalhos de campo e seminário de devolutiva sobre pesquisas em clima, saúde e geotecnologias na vigilância territorial. Ações exatamente para promover a integração entre ciência, território e políticas públicas.