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Fiocruz e MNU-RJ lançam documentário sobre perspectiva antirracista da saúde nas favelas do Rio de Janeiro

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Informações de Nathalia Mendonça (Cooperação Social da Fiocruz)
Publicado em - Atualizado em
Arte de Vera Fernandes/Ascom em cima do cartaz de divulgação do filme Nzila, com arte de Luciana Clua e Gislaine Lima.
Produção conta com apoio da VideoSaúde/Icict e vai entrar na plataforma de vídeos Fioflix.

O auditório do Museu da Vida Fiocruz recebeu, na quinta-feira (27/11), parlamentares, pesquisadores da Fiocruz, lideranças comunitárias e comunicadores populares para o lançamento do documentário 'Nzila: Favela, Ancestralidade e Saúde Antirracista'. Cerca de 100 pessoas participaram da exibição e dos debates sobre a promoção da saúde, a luta antirracista e o impacto da violência armada na vida dos moradores das favelas do Rio de Janeiro.  

O filme é um dos resultados do projeto 'A saúde na Favela pela Perspectiva Antirracista', coordenado pela Cooperação Social da Fiocruz, com atuação em sete territórios de favelas do Rio de Janeiro: Manguinhos, Jacarezinho e Cidade Alta, localizadas na Zona Norte, Vila Aliança, na Zona Oeste, Mangueirinha, em Duque de Caxias, Rocinha, na Zona Sul, e Vila Cruzeiro, na Zona da Leopoldina. O projeto foi responsável pela formação de 500 Promotores Populares de Saúde nesses territórios.

Em janeiro de 2026, será realizado um circuito de estreia e exibição do filme nos territórios de favelas do Rio de Janeiro. O documentário também estará disponível para o público através da Plataforma de Filmes em Acesso Aberto da Fiocruz, Fioflix. Além dele, também será lançada uma cartilha para uso de moradoras, moradores e profissionais dos territórios.  

Os materiais e ciclos formativos são fruto de uma parceria entre a Coordenação de Cooperação Social da Presidência da Fiocruz, do Movimento Negro Unificado (MNU-RJ) e da VideoSaúde Distribuidora da Fiocruz do Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde (Icict/Fiocruz).

A mesa de abertura do evento contou com a participação de Leonardo Brasil Bueno, pesquisador da Coordenação de Cooperação Social da Presidência da Fiocruz e coordenador do projeto; João Batista Carvalho, Coordenador estadual do Movimento Negro Unificado do Rio de Janeiro (MNU-RJ); Daniel Elias, representante do Programa Institucional de Políticas sobre Drogas, Direitos Humanos e Saúde Mental da Fiocruz; Mônica Francisco, pesquisadora do Dicionário de Favelas Marielle Franco (WikiFavelas/Icict); Tomás Ramos, assessor parlamentar do deputado federal Tarcísio Motta; e Mirian de Oliveira, psicóloga e coordenadora do projeto no território da Vila Aliança, Zona Oeste, Rio de Janeiro.

Os caminhos da ancestralidade e da saúde antirracista nas favelas

A partir das vozes e vivências de sete territórios, o filme 'Nzila' revela ações e práticas antirracistas construídas por coletivos e movimentos sociais, mostrando como a ancestralidade se entrelaça às lutas por saúde, dignidade e justiça. Nzila (“caminho” na língua Bantu) é um produto de divulgação científica que busca incentivar, valorizar e promover as tecnologias sociais construídas a partir dos saberes populares e da ciência.     

Dirigido e roteirizado por Edilano Cavalcante, a produção conta com o apoio da VideoSaúde Distribuidora da Fiocruz do Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde (Icict/Fiocruz).  A narrativa do filme alia a visão da pesquisa científica com a do conhecimento popular. “É um documentário feito a várias mãos. Ele vincula muitas histórias que foram gravadas e construídas a partir dessas relações de luta dos moradores”, explicou Edilano, mestrando em divulgação científica pela Casa de Oswaldo Cruz e diretor do filme.  

Narrativas populares e a divulgação científica

Após a exibição do documentário, foi realizada uma mesa de debate sobre a importância da divulgação científica feita em conjunto com a comunicação popular. Integraram a mesa: Benedita da Silva, professora, assistente social e deputada federal; Edilano Cavalcante, mestrando em divulgação científica pela Casa de Oswaldo Cruz e diretor do filme; Marcelo Dias, diretor de comunicação do Instituto de Pesquisa das Culturas Negras e integrante do MNU-RJ; Cristiane Vicente, doutoranda em saúde pública pela Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca (Ensp/Fiocruz); Claudia Lima, cogestora da VideoSaúde Distribuidora da Fiocruz do Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde (Icict/Fiocruz); Dona Zica, discente do curso Saúde Antirracista e militante popular da Vila Aliança e Priscilla de Barros, agente de saúde do território do Jacarezinho e também discente do curso.  

A deputada federal Benedita da Silva destacou a importância de uma articulação para o enfrentamento das diversas violências enfrentadas pela população dos territórios. “Eu morei 57 anos da minha vida na favela do Chapéu Mangueira, foi ali que eu comecei a me organizar com as mulheres. Nós reproduzimos os nossos quilombos nas favelas. Eu faço questão de que vocês saibam o tipo de violência que nós sofríamos e que ainda sofremos nos dias de hoje. A ausência do Estado na água, na luz, na educação, na saúde, também é uma forma de violência”, destacou a parlamentar.

Dona Zica, militante popular na Vila Aliança e discente do curso de Saúde Antirracista, também vivenciou a favela através da luta. Após sofrer por duas remoções, Dona Zica, afirma que dentro das favelas existe a solidariedade e o calor humano pela organização popular. “É necessário que a favela lute por segurança, por saúde, por moradia digna, porque quatro paredes e um telhado não é uma moradia digna. É onde a gente se esconde para dormir no final da tarde”, reforçou.

A cogestora da VideoSaúde Distribuidora da Fiocruz, Claudia Lima, encerrou a mesa de debate falando sobre as diversas linguagens produzidas pela Fiocruz no âmbito da divulgação científica e da promoção da saúde. “É através do audiovisual que a gente consegue também sensibilizar as pessoas. Isso vem para empoderar, como o filme também mostrou, mas também permite que as pessoas possam se sentir pertencentes a um lugar”, concluiu Cláudia.

Cláudia Lima realiza sua fala durante o encerramento da segunda mesa de debate. Cláudia é uma mulher negra de cabelos crespos curtos, usa poculos de grau e veste uma encharpe cinza por cima de uma blusa verde estampada.

Sobre o projeto  

O projeto Saúde na favela pela perspectiva antirracista objetiva a formação em Promoção da Saúde com acolhimento, escuta ativa e enfoque antirracista para moradores de sete favelas do Rio de Janeiro que tenham passado por violações de direitos humanos. Também visa analisar as demandas locais frente à disponibilidade de serviços psicossociais para moradores dessas favelas na perspectiva antirracista do compartilhamento de Saberes Ancestrais, sobretudo reconhecendo e valorizando tais saberes que estão presentes nos sete lugares de atuação do projeto. O projeto é realizado pela Coordenação de Cooperação Social da Fiocruz, em parceria com o Movimento Negro Unificado (MNU-RJ). 

Assista ao trailer