No último número de 2025, a RECIIS apresenta percepções relacionadas à COP30, reflexões sobre violência política e estudos que discutem saúde e mudanças climáticas.
A edição apresenta também pesquisas originais que abordam as redes sociais on-line como fontes de informação sobre saúde, formas de comunicação de órgãos públicos e mediações por meio dos profissionais de saúde.
Em editorial, Christovam Barcellos, que participou da COP30, faz um balanço do evento junto aos outros editores científicos da RECIIS, Wilson Couto Borges e Kizi Mendonça de Araújo. Os autores avaliam que o evento, realizado em novembro na cidade de Belém, foi marcado por uma profusão de informações, produzidas por atores sociais com diferentes interesses e expectativas. Algo que gerou uma sensação de frustração, pois se imaginava que seria uma oportunidade de avançar na transição energética de forma justa e em metas para mitigação da crise climática global estabelecidas na COP21, incorporadas no chamado Acordo de Paris.
Ainda assim, os editores destacam avanços em pautas acordadas entre alguns países, por exemplo, a criação do Fundo Florestas Tropicais para Sempre (TFFF), destinado à manutenção de florestas em regiões tropicais e em países do Sul Global; e o lançamento do Plano de Ação de Belém para Saúde e Mudanças Climáticas, que permite a criação de sistemas de saúde resilientes às mudanças e aos eventos climáticos extremos. Os autores enfatizam também uma maior participação popular dos movimentos do campo da saúde e dos povos indígenas da Amazônia nesta conferência.
Em Notas de Conjuntura, Pedro Cláudio Cunca Bocayuva argumenta que o Brasil está estacionado numa encruzilhada golpista na qual impera uma política colonial-racista, de exploração de classe e violência de gênero. Para sair dessa encruzilhada, o autor aponta como caminho as ações que enfrentam os desafios, principalmente raciais e climáticos nos territórios, considerando as potências periféricas, por meio de atores populares, movimentos e grupos sociais, conforme foi o processo constituinte e a criação do Sistema Único de Saúde (SUS), que neste ano completou 35 anos.
Informação e redes sociais on-line
Por meio de submissão em fluxo contínuo, esta edição apresenta artigos originais que demonstram como as redes sociais on-line têm sido fonte de informação sobre saúde. Esse aspecto foi constatado por Cuchi et al., que analisam questões sobre vacinação infantil e hesitação vacinal com mães e responsáveis em Unidades de Saúde da Família no Mato Grosso. Já Thais Rusczak e Helena de Fátima Nunes Silva observam a busca de informações de pacientes com insuficiência renal crônica em grupos de saúde no Facebook.
Estudos sobre as campanhas de saúde, modelos e estratégias de comunicação dos governos são outras questões abordadas nos artigos nesse número. José Augusto Simões de Miranda analisa uma campanha oficial sobre HIV produzida pelo Ministério da Saúde, e Ramos et al. estudam as práticas comunicacionais das secretarias do Governo do Espírito Santo e municípios da Grande Vitória, voltadas para o enfrentamento da Covid-19.
Saberes e mediações dos profissionais de saúde
Outro eixo abordado nos artigos é a compreensão dos saberes e a prática clínica dos trabalhadores de saúde. Marteleto et al. compreendem as práticas de mediação de saberes e informações realizadas por Agentes Comunitários de Saúde e Agentes de Combate às Endemias em relação à prevenção e aos cuidados de doenças causadas por arbovírus – como dengue, febre chikungunya e Zika vírus – em territórios vulnerabilizados. Já Costa et al. compreendem os saberes sociais produzidos pelos trabalhadores de saúde sobre as Práticas Integrativas e Complementares em Saúde.
Massari et al. avaliam a implantação de uma plataforma digital voltada à Saúde da Mulher, da Criança e do Adolescente, a fim de qualificar a prática clínica no SUS. A edição também é composta pela segunda parte do dossiê Comunicação nas instituições de saúde e saúde na comunicação.
Práticas de leitura na cultura digital, mudanças climáticas e saúde
Em entrevista à RECIIS, a professora Carina Flexor narra sua trajetória de pesquisa voltada para as práticas de leitura na cultura digital e à emergência da educação midiática como estratégia para educar “para, com e pelas” mídias diante da desinformação no ambiente digital, particularmente relacionada à saúde.
Na seção Resenha, Ligia Regina Guimarães Clemente apresenta o livro Mudanças Climáticas, Desastres e Saúde. De acordo com a autora, a obra oferece múltiplas perspectivas e tensionamentos das problemáticas sobre a saúde frente a desastres, sendo uma referência para se conhecer, discutir e pensar em soluções para a realidade das mudanças climáticas e da saúde no país.
*A RECIIS é uma das iniciativas da Política de Acesso Aberto e não cobra taxa de processamento de artigos. Ela faz parte do Portal de Periódicos Fiocruz junto a outras oito revistas científicas que oferecem livre acesso aos seus conteúdos.