Mortalidade de idosos e sistemas de informação foram a pauta do segundo dia do Simpósio

por
Graça Portela
,
30/04/2018

A mesa 3 – “A mortalidade prematura de adultos e idosos no Brasil: Potencialidades e limitações do indicador”, contou com a coordenação de Joyce Shcramm, pesquisadora da Ensp/Fiocruz., e foi a mesa mais técnica, no sentido de mostrar metodologias de pesquisa e seus impactos nos inquéritos.

O primeiro a falar foi Cássio Turra, do Cedeplar/UFMG. Ele trouxe a palestra “A desigualdade na mortalidade adulta e as políticas sociais no Brasil”.  Turra começou afirmando que “falta no Brasil bases de dados capazes de lidar com as desigualdades sociais”. Ele falou que “o que precisamos é uma base dados que fosse capaz de conectar uma base populacional com informações de mortalidade longitudinais de outra base”.

O pesquisador do Cedeplar afirmou que no exterior “há estudos que permitem medir a causalidade entre o ganho de escolaridade e a redução no risco de morrer”. Turra explicou que os estudos brasileiros apresentam “dificuldades de generalização ou de mensuração”. Ele afirmou ainda que “o grande desafio é relacionar características individuais com riscos individuais.”

Marcos Gonzaga, da UFRN, trouxe o seu estudo inédito, ainda não publicado, sobre “Estimativas do grau de cobertura e da mortalidade adulta no Brasil” e iniciou falando sobre a cobertura de óbitos no Brasil. Para Gonzaga, seja em nível nacional ou local, “os métodos demográficos no país não estão dando conta de estimar corretamente o grau de cobertura ou a mortalidade em determinadas regiões”. Para isso, ele e sua equipe começaram a estudar a combinação de métodos para ter uma resposta satisfatória de análise. Em seus estudos com outros pesquisadores, Gonzaga percebeu que há um “certo nível de incerteza, em relação à estimativa da cobertura óbito. Se forem aplicados diferentes métodos etnográficos, serão encontrados resultados bastante diferentes, que precisam ser incorporados nas estimativas.”

A primeira parte do segundo dia do Simpósio foi encerrada com a apresentação de Dalia Romero, que falou sobre “Causas de mortalidade prematura por DCNT: é factível prevenir todas essas causas na atualidade?”.

A pesquisadora do LIS/Icict falou sobre alguns indicadores da OMS para a causa de mortalidade por morte prematura por doença crônica não transmissível (DCNT) – “o que venho trazer aqui é analisar o indicador, não quanto a seus resultados, mas como um fator social”, explicou. Ela exemplificou falando sobre as doenças mais causadoras de morte, segundo a OMS, em idosos: as neoplasias, o diabetes, doenças do aparelho circulatório e as doenças respiratórias crônicas e infecções agudas das vias aéreas, além gripe e pneumonia. Romero classificou como um “golaço” para os pesquisadores que trabalham com envelhecimento, o reconhecimento de que “do ponto de vista, isto é um fato social, reconhecer que morrer antes dos 70 anos por uma doença crônica é uma morte prematura”.

Dalia Romero ressaltou que, nos dez anos de existência do Sistema de Indicadores de Saúde e Acompanhamento de Políticas do Idoso – Sisap-Idoso, que o Gise coordena, sua equipe levanta sempre algumas questões ao incluir um indicador, como “se a taxa de mortalidade prematura por doença crônica vir a diminuir nos próximos anos, será por que alcançamos um melhor bem-estar social? Ou, poderíamos diminuir as taxas, piorando a situação?”.

A pesquisadora demonstrou que – ao pegar a idade média da população por cor da pele e calcular um desvio apenas para ver os resultados – os dados estavam próximos da desigualdade social, como uma segunda causa de óbitos no país. Segundo ela, “o que está dando muita desigualdade social é morrer por causas externas. E as causas externas matam antes dos 30 anos de idade”.  Ela concluiu sua apresentação, exortando aos presentes para “saírem da zona de conforto” e questionarem, por exemplo, “por que há tantos artigos sobre obesidade e tão poucos sobre a fome, que mata na infância, mas também impacta fortemente na saúde na pessoa idosa?”.

Fatores sociais

A última mesa foi sobre “O papel dos sistemas de informação, inquéritos e vigilância para enfrentamento das DCNT”, que teve como coordenador o pesquisador do LIS/Icict, Paulo Borges. Celia Landmann Szwarcwald, pesquisadora do LIS e coordenadora técnica da Pesquisa Nacional de Saúde (PNS), foi a primeira a falar e abordou como se consegue capturar dados dos sistemas de informação e monitorar as informações através de inquéritos, em especial do item 3, dos ODS, que enfoca a questão do bem-estar.

A pesquisadora afirmou que “crescem as evidências que indicam que os fatores sociais constituem elementos centrais na determinação do padrão na morbi-mortalidade, na adoção dos comportamentos saudáveis e na distribuição dos serviços e recursos de saúde”. A pesquisadora salientou que “nós, da Saúde, precisamos definir estratégias de redução das desigualdades no âmbito do setor saúde, através de alternativas objetivas, passíveis de mensuração e avaliação”. Ela também ressaltou a necessidade da coleta periódica de informações para que “possamos dar um suporte de evidências do que acontece com a nossa população”.

Fechando o Simpósio, Deborah Malta, pesquisadora da UFMG, que enfocou a “Vigilância em saúde: panorama da mortalidade prematura por DCNT no Brasil”. Ela defendeu que para se enfrentar as doenças crônicas é essencial uma pesquisa intersetorial: “Enfrentar o ODS 3 – Objetivo  3: Assegurar uma vida saudável e promover o bem-estar para todas e todos, em todas as idades – mais especificamente o ODS 3.4 – Até 2030, reduzir em um terço a mortalidade prematura por doenças não transmissíveis via prevenção e tratamento, e promover a saúde mental e o bem-estar –, há que se trabalhar numa dimensão intersetorial e integrada”, afirmou.

Em relação aos ODS, Malta conclui sua fala afirmando que “o movimento social, o movimento nas instituições de ensino e pesquisa tem que perseguir essas metas e cobrar, exigir do governo, que as medidas sejam adotadas”.

 

Acesse, ao lado, a galeria de fotos do evento e também as palestras já disponibilizadas no Youtube.

Leia nos links abaixo o que ocorreu nos dois dias do I Simpósio Nacional sobre Saúde, Envelhecimento e estado de Bem-estar, realizado entre os dias 18 e 19 de abril:

Penalização de idosos e questões de gênero marcam o primeiro dia de debates

Simpósio sobre envelhecimento atrai jovens pesquisadores

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Galeria de fotos

I Simposio Nacional Envelhecimento - Mesa de abertura - Fotos: Raquel Portugal (Multimeios/Icict/Fiocruz)
I Simposio Nacional Envelhecimento - Fotos: Raquel Portugal (Multimeios/Icict/Fiocruz)
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I Simposio Nacional Envelhecimento - Fotos: Raquel Portugal (Multimeios/Icict/Fiocruz)
I Simposio Nacional Envelhecimento - Rodrigo Murtinho - Fotos: Raquel Portugal (Multimeios/Icict/Fiocruz)
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I Simposio Nacional Envelhecimento - Rodrigo Murtinho & Dalia Romero - Fotos: Raquel Portugal (Multimeios/Icict/Fiocruz)
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